Estão a ver a telha de ontem? Não vou dizer que se manteve
porque as minhas telhas são sol de pouca dura, mas vou dizer que hoje tenho uma
“micro-telha”, uma nova e não a mesma. A tarde até foi ocupada e tive um
lanchinho daqueles em que só a companhia alimentaria o suficiente (pronto, pelo
menos a mim). Entretanto ia matar a telha com uma corridinha mas estava frio, e
não encontrava umas calças de jeito, e o mp3 não tinha bateria e está-se mesmo
a ver que já não foi coisa para hoje. Quando penso nestas “pancadas” tão
minhas, na minha cabeça pairam imediatamente aulas de Português. Eu sou teimosa
(que nem uma… formiga) e portanto, quando os meus queridos professores se lembravam
de sugerir/quase-quase-mandar ler um determinado livro… era birra na certa. “Porque
eu não quero ler isso, porque esse livro é uma chatice, porque esse autor é um
piegas”. Quer seja para correr, quer seja para ler o que me impõem, o óscar de
melhor inventor de desculpas vai para… o Passos Coelho e eu contento-me com o
segundo lugar. No último ano da dita disciplina, quando tive que ler os “Os Lusíadas”
a coisa até que correu bem, “apresentaram-me” o Fernando Pessoa e eu
apaixonei-me por ele e por mais uns quantos, uns tais de heterónimos, se bem
que ainda havia telhas (de ferro!) na hora da interpretação, e depois foi a vez
do Saramago e… aí é que a porca torceu o rabo (e que torção)! Eu a ler o “Memorial
do Convento” com todo o empenho (e sempre com a questão da obrigação na mira)
quando, numa bela visita de estudo, decidem falar-me que lá mais para o meio
havia máquinas voadoras e coisas que tais. Remédio santo: pára-se já a leitura,
compram-se uns livros que resumam a coisa (e que a interpretem, já agora) e começa-se
já “As Intermitências da Morte”. Bendita a hora em que no exame era Camões para
um lado e o meu apaixonado para o outro!
E a quem é que isto interessa? Pois, talvez a ninguém… para
além dos cônjuges dos meus professores porque passaram a ver mais e mais
cabelos brancos a cada dia que passava: um metro e meio de potente “descoloração”
(e devo dizer que quanto mais velha eu era, pior!)! Hoje em dia lá vou obedecendo
e lendo os calhamaços técnicos que me impõem…. À noite tenho-me “vingado” em
Drummond de Andrade, mas a um ritmo que é uma loucura: um poema por noite! Pois,
é que eu demoro cinco minutos a ler, mais dois a procurar palavras que não conheço
e depois demoro tanto tempo a pensar em interpretações e a magicar associações e
sei lá eu a fazer mais o quê, que dá tempo para um olho se fechar, o outro
acordar este, e entretanto se fecharem em uníssono. Tem sido uma animação. Será
que não há um professor, quiçá a precisar de uma descoloração gratuita, que me
ajude com este bico-de-obra? É isso ou um estágio que me “injecte” adrenalina
porque isto de passar uma semana a desejar que o banco chegue… não é vida para
mim!
MJ.