Depois do post de ontem, alguns de vocês devem estar a
pensar “Lá vai a cachopa continuar a falar da Guarda (e merecia porque sopra hoje 812 velas), desta vez associando o
manto branco com que esta se deixa cobrir quando o frio aperta”. Desenganem-se
os leitores com dotes de adivinhação porque hoje não há neve para ninguém e
vamos retomar os episódios da minha vida de projecto de médica.
Falando brevemente na composição do projecto, que é como
quem diz, na estrutura do curso, importante será fazer algumas divisões:
- Pré-curso ou o “Ó meu Deus, será que a média chega”
- Primeiros três anos do curso ou “Estou farta de Anatomia,
Bioquímica, Farmacologia… só quero que o quarto ano chegue!”
- Anos números quatro e cinco ou “Cheguei ao hospital e agora
quero assistir ao máximo de cirurgias, mexer, fazer, conhecer e experimentar… e
que estes anos durem porque não quero ir para o sexto!
- Sexto ano ou “O medo, o pânico, o horror… acabaram-se os
anos gloriosos de estudante e “marra, marra e marra” que o exame final está aí
a explodir!
Eu encontro-me na terceira fase e acreditem que os hospitais
são locais apinhados de histórias que valem a pena serem contadas e pessoas que
valem a pena serem “partilhadas” (e não se preocupem, esses dias chegarão).
Hoje vou falar-vos de um curso que todos os projectos fazem
a partir do terceiro ano, a par do curso de medicina. Curiosos? Chama-se
“Engenharia de segurar paredes e passar despercebido”. Para isto contribuem
claramente os médicos que nos são atribuídos (uma espécie de tutores). Se alguns
desvalorizam este curso e querem mesmo é ensinar-nos medicina, já outros ouvem
estações de rádio diferentes das nossas e que antecipam terramotos gravíssimos
para a cidade de Lisboa. Ora, se se aproxima uma “calamidade” é claro que os
projectos estão prontos a intervir, segurando tão bem mas tão bem as paredes
que, e eu acredito que os terramotos acontecem, as paredes nunca caem! Eu ainda
só vou a meio do bacharelato mas alguns dos meus colegas concluíram já o seu doutoramento
nesta arte de segurar paredes. Nos breves momentos em que protegi o hospital do
perigo eminente de derrocada, dei por mim a reflectir sobre a cor das batas dos
médicos. Porquê branco? Se pesquisarmos um bocadinho sobre essa cor (obrigado
wiki, estás sempre lá quando preciso), verificamos que branco é “sinónimo” de
“paz, calma, ordem, limpeza, energias positivas”. Será por isso que foi a cor
eleita? Nos meus períodos de reflexão concluí que não… há uma explicação muito
mais racional:
- as paredes da maioria dos hospitais são brancas
- as batas dos projectos são brancas
- as paredes e as batas “fundem-se” e é um acto “camaliónico”
perfeito! Mais despercebidos é impossível!
Quando cheguei ao bloco operatório do Hospital Egas Moniz o
meu sorriso ia da orelha direita à contra lateral. Então não é que as paredes dos
corredores eram amarelas? Mas não! Era só uma pequena partida! Depressa vi um
expositor com os belos factos cirúrgicos. 80% azuis e 20% amarelos, estando um
papel na coluna dos últimos que dizia “estudantes”. Obrigado por não se esquecerem
de nós!
MJ.
Estamos sempre a aprender...
ResponderExcluirGostei da explicação, mas vai implicar mudar a côr das minhas batas (não quero passar desapercebido)... :)
Obrigado Sérgio.
ResponderExcluirE não te preocupes... acho que só se aplica aos projectos :)
Olha, olha... a elite a "segurar paredes" e a discutir a cor das batas (lol)
ResponderExcluirJosé Luís Lopes: eu digo-te a elite...
ResponderExcluir