3 de janeiro de 2012

Diz-me o que tens... dir-te-ei se percebi!

Hoje vamos voltar às coisas da saúde porque eu sei que já têm saudades de ler sobre a minha vida enquanto projecto de médico. A menina, ainda um bebé nestas lides hospitalares, tem-se deparado com um rol de situações que fazem as delícias do seu lado mais humorístico. Não estou, obviamente, a falar das “maleitas” que atacam os doentes com quem me cruzo nem dos seus problemas… trata-se da comunicação entre a “doutorazinha de catorze anos” ou “a netinha que eu gostava de ter”, como já fui apelidada, e os “meus” doentes. De facto, muitas das vezes é um verdadeiro quebra-cabeças decifrar o que nos querem transmitir. Os aparelhos genitais constituem o exemplo mais flagrante, tal é a panóplia de denominações que conseguem surgir numa conversa em que o tema é abordado. Os nomes das doenças (“diabretes”, “cancaros” e muitos outros) são também alvo de “renomeações” muito criativas.
Uma outra situação interessante é quando tentamos averiguar a causa de morte de familiares. Ao que parece, antigamente era frequente morrer por se ter o diabo no corpo ou por ter visto o diabo (ao que parece um senhor morreu de pé quando o viu) ou de desgosto.



Depois há ainda "doentes manhosos":
- "Então o Sr. bebe?"
- "Ai menina, por quem me toma... bebo às refeições"
- "Está bem. Então diga-me quantas refeições faz e o que bebe em cada uma, por favor"
- "Ora bem, um copo de vinho ao meio da manhã quando venho do campo, dois ao almoço, um bagaço com o café, dois ao lanche..."
Ia agora acabar mas lembrei-me de uns casos maravilhosos e que uma assistente que tive no ano anterior apelidava “doentes de amor”. Trata-se de pessoas que surgem no hospital com queixas variadas mas que são curadas apenas com a nossa atenção, umas festinhas nas pernas, umas auscultações meiguinhas e uma conversa calma… com amor! Enfim, um dia na enfermaria foi a cura perfeita para a nostalgia da noite de ontem… cirurgia, surpreende-me amanhã!


(antes que me "mordam", eu trato os doentes por você... mas o título ficava mais giro assim!)

MJ.

4 comentários:

  1. as vezes uma boa dose de amor é o melhor remédio :D

    ResponderExcluir
  2. As histórias clínicas são sempre muito engraçadas de fazer, e nos hospitais lidas com pessoas de todos os estratos sociais e de diferentes zonas do país. Essa interacção é muito gratificante e sem dúvida com episódios cómicos. Não leves a mal mas adorei a "doutorazinha de quatorze anos", é muito bom...

    ResponderExcluir
  3. Lara: "concordadíssimo"!

    Sérgio: Se adoraste levas como bónus a continuação da saga

    Doente:"A doutorazinha tem 14 anos?"
    MJ:Não...
    Doente:"Então tem 16 anos?"
    MJ:"Acha que eu podia ter 16 anos e estar aqui?"
    Doente: "Podia ser um génio!"
    MJ: "E sou... o génio da lâmpada"

    (e esta conversinha valeu-me uma gasimetria sem queixas!)

    ResponderExcluir
  4. Obrigado pelo bónus :)
    Afinal és um génio...bem me parecia que algo de estranho se passava por aqui... lol
    Já vi que tens jeito natural para conquistar as pessoas, pelo que vi aqui e no caso que adorei da crónica do autocarro. Que continue a saga ;)

    ResponderExcluir